segunda-feira, 26 de maio de 2008

Agora leia o que o autor da novela “Duas Caras” acha da TV de hoje

Antes de ler esse texto é necessário ressaltar que o Aguinaldo Silvia escreveu, junto com o Gilberto Braga, a melhor novela da TV, Vale Tudo.
É de Lisboa, onde tem um apartamento, que Aguinaldo Silva está acompanhando — muito de perto, diga-se — a produção dos últimos capítulos de “Duas caras”. O autor tem os números do Ibope na ponta da língua. Agora, com a missão cumprida, vê um saldo positivo nesta história, que considera a melhor de todas as que já inventou.
O GLOBO: Ao longo da novela, você manifestou irritação, em seu blog principalmente. O que fez você sofrer?
AGUINALDO SILVA: Apesar de tudo de bom que aconteceu, e de eu ainda sentir a novela viva na minha cabeça, estou pasmo com os tempos que estamos vivendo. Sofri tantas pressões que tive que explodir a uisqueria, que considero um dos cenários mais amenos da novela. Eu, que sou um cara que vivi os terríveis tempos da censura, fico triste com isso tudo. O que me afetou muito foi constatar que existe de novo o que se pode chamar extra-oficialmente de censura. Eu sei bem o que é censura. Os órgãos oficiais dizem que as pessoas se manifestaram contra as cenas da Alzira (Flávia Alessandra) na uisqueria. Que pessoas são essas? Os 40 milhões que assistem à novela estão gostando.

A novela demorou a emplacar (ficou em torno de 38 pontos no início). Como você, um reconhecido campeão de audiência, sentiu isso?
AGUINALDO: Foi um choque para mim. Mais do que uma demora em emplacar, houve uma mudança nos hábitos. As pessoas simplesmente estão desligando a TV. “Senhora do destino” (entre 2004/2005) tinha 80% de aparelhos ligados. Hoje são 71%. É um escândalo.

Qual é a média até agora?
AGUINALDO: É de 41 pontos e uns quebrados. “Paraíso tropical” teve 42.

As dificuldades de escalar atrapalharam? Juvenal, por exemplo, foi escrito para José Mayer...
AGUINALDO: Fagundes estava fazendo “Carga pesada” e eu não achei que ele aceitaria. Foi idéia do Wolf (Maya). E excelente. Fagundes tem mais a ver com o personagem, ele é histriônico, é extrovertido. Mayer é mais para dentro. Aliás, eu o encontrei no lançamento do livro da Marília Pêra e ele me puxou e disse baixinho: “que inveja!” (de Antônio Fagundes)... O Fagundes carregou para o personagem toda a sua experiência de vida. Ele não teria feito tão bem o Juvenal Antena se fosse um cara mais jovem. Enriqueceu o personagem de uma maneira impressionante, fez com uma verdade tão profunda... É uma grandeza de ator!

Antes da estréia, você disse que esta seria a sua novela mais radical. Acha que conseguiu?
AGUINALDO: Eu vejo “Duas caras” como a a melhor de todas as novelas que eu já escrevi na minha vida. A novela em que eu fui mais longe. Consegui sair do marasmo habitual do folhetim, pelo menos do meu marasmo pessoal, e abri para mim mesmo novos caminhos. A história de Bernardinho (Thiago Mendonça) foi além do que eu esperava, mas fiquei devendo a Flávia Alessandra. A trama dela não aconteceu, mas não por minha culpa. Outro grande ganho é a minha parceria com o Wolf.

E qual foi a realidade para você durante os meses da criação de uma novela que você diz ser a mais radical de todas as que escreveu?
AGUINALDO: Sofri feito o diabo. Houve muitos momentos em que cheguei a achar que tinha simplesmente perdido dois anos da minha vida, jogado fora. Ganhei um monte de cabelos brancos. Mas valeu.
Mais uma matéria do jornal O Globo, publicada no dia 25 de amio de 2008.

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