segunda-feira, 26 de maio de 2008

O meu, o seu, o nosso eterno Ivan de Vale Tudo, Antônio Fagundes, fala da TV de hoje em dia

Juvenal Antena pode não ter sido escrito com a pretensão de ser o protagonista absoluto de "Duas caras", mas ele marcou a novela de Aguinaldo Silva, que termina no próximo sábado. A repercussão do personagem não chegou a surpreender Antônio Fagundes. Aos 59 anos, quarenta de carreira, ele consegue vislumbrar um bom papel de longe, ainda que afirme: os novos rumos da teledramaturgia transformaram as novelas em apostas arriscadas.

- Você começa uma novela sem saber como vai terminar. Antigamente, ela tinha uma estrutura fixa, até os nomes indicavam isso. Era "O profeta", "O astro", era a história daquela pessoa. Hoje são muitos personagens e você não sabe quem é o protagonista. As novelas se chamam "Duas caras" e "Paraíso tropical". Quer dizer o quê? Quem é o protagonista? Se uma das histórias não der certo, o autor investe em outra, afinal ele tem cem. Para o ator é difícil. Não por vaidade, isso você administra. O problema é achar que vai ser de um jeito, preparar tudo e aquilo morrer em dez capítulos. A dramaturgia está mais preocupada em se salvar do que em contar uma boa história.

"Epa, epa, epa!", diria Juvenal. Se é tão complicado assim, por que fazer novelas a essa altura do campeonato?
- Eu adoro trabalhar, faço por prazer. As pessoas não conseguem imaginar alguém sair de casa feliz porque tem 39 cenas. Dizem: 'Mas como esse cara está rindo, vai ficar o dia inteiro no trabalho'. Eu não troco uma gravação de 39 cenas por duas horas de praia. Meu lazer é fazer peça, filme. O que me deixa irritado é esperar, que é o que mais a gente faz em TV se não tem uma carga grande de trabalho.

Essa aparente falta de paciência fica evidente por uma característica que o distancia de alguns de seus colegas. Fagundes é dono de um método privilegiado para decorar as falas.
- Eu não tenho a lição de casa que os outros atores têm, não estudo as cenas com antecedência. Chego ao Projac sem nem saber qual é o cenário, leio o capítulo e decoro na hora. Mesmo com 40 cenas, pode vir, nem me preocupo.
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Fazer parte do seletíssimo grupo de atores do primeiro escalão da TV Globo tem vantagens. Fagundes pode recusar e escolher papéis, tem um dos mais altos salários da emissora e grava somente às segundas, terças e quartas.
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Apesar de não concordar com o rótulo de galã ("Não sou meu tipo de homem"), Fagundes tem a sabedoria de aceitá-lo. Mas adverte: não gosta de ser abordado na rua.
- Há uma figura jurídica que se chama o direito de estar só. Se eu quiser ir ao cinema não consigo. Tenho que parar para dar autógrafo, perco o filme e as pessoas me odeiam quando não sou simpático. Eu já tive que sair de velório escoltado, porque descobriram que eu estava lá, o bairro inteiro desceu e ficou gritando, alegre, na porta do cemitério: "Fagundes! Fagundes!". E eu ali chorando a morte de um amigo. Há colegas que dizem que gostam disso, mas acho que é mentira, é média que eles fazem. Eu não faço média, por isso sou antipático - comenta, para logo responder, bem-humorado, o quão lisonjeiro é, com quase 60, contracenar com uma Flávia Alessandra. - Não é por nada não, mas minhas namoradas também estão bem na fita.
Fonte: Entrevista de Simone Mousse - O Globo

Um comentário:

Di disse...

Resolveu colocar fotos né!