segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Cláudia Rodrigues


Cláudia Rodrigues fala pelos cotovelos, emenda um assunto no outro sem aviso prévio, faz piada o tempo todo e imita vozes. Não que seja encenação, mas ela mesma confessa que usa o humor como escudo.
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Muitos a consideram esnobe - e ela admite que é, sim, marrentinha desde a infância. Nascida em uma tradicional família tijucana, aos 21 anos ela viu o irmão de 25 se suicidar com um tiro na cabeça. Meses depois, o pai morreu de câncer, e ela teve que assumir as rédeas da casa.
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Conheceu o sucesso profissional, cujo ápice foi protagonizar "A diarista", mas o fim do programa, ano passado, foi outro baque. Descobriu que sofre de esclerose múltipla, foi roubada por uma tia, separou-se do pai de sua filha e, hoje, tem posto de substituta no "Casseta & planeta", enquanto a titular Maria Paula está de licença-maternidade. Claudia, 38 anos, acha que, com tanto sofrimento, acabou aprendendo alguma coisa, e fala com naturalidade sobre críticas e momentos difíceis.
- Se eu te contar a história da minha vida você vai pedir uma água com açúcar. Sou engraçada, mas não o tempo todo. O humor é um mecanismo de defesa. Sempre fui a menor da turma (1,50m), então antes de me sacanearem já estou sacaneando. O humor é meu escudo - conta a atriz, que assume seu jeito difícil.

- Sou tijucana, e tijucano é marrento. E daí que a zona sul tem a Lagoa? A gente tem o Maracanã. O meio em que eu cresci foi do tipo "meu irmão, se vira!". A vida inteira eu tive que botar a mão na cintura e peitar. Sou cascuda, peguei muito ônibus, só fui ter carro aos 24 anos. Meu humor agride às vezes, tenho um humor masculino, cresci com meu irmão, com os amigos dele, sou moleca, jogava bola. Eu falo que sofro de sincerocídio. Por que as pessoas querem ser enganadas? Na minha adolescência, me achavam metida e marrenta. Nunca tive tamanho, então eu passava com o nariz empinado. Meus amigos brincam dizendo que sou isso e aquilo e, quando me pedem um conselho, eu digo: "Não sou a enfezada? Por que me pedem opinião?". Ainda me acho marrenta, mas agora as pessoas me julgam muito por eu ser famosa. Mas, quando me conhecem bem, me acham maneira.
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Cláudia diz que está feliz em seu momento "casseta". Mas, por quatro anos, ela reinou absoluta à frente de "A diarista", e o fim do programa desestruturou sua vida.
- Acabou porque o ibope vinha caindo. Depois descobrimos que o ibope caiu de uma maneira geral na TV. A Globo resolveu tirar do ar, até porque queria experimentar esses sitcoms novos, queria testar formatos - explica a atriz. - Fiquei bastante chateada, claro. Quando acabou o programa, dei uma reformulada em tudo. Eu tinha amigos que eu achei que eram amigos e não eram, foi um ano de limpeza, de sacode.
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Ela nega todos os boatos de briga nos bastidores, principalmente com Dira Paes, que interpretava Solineuza, uma das amigas de Marinete.
- Não briguei com ninguém, e eu me chateava com essas fofocas. Mas vou te dizer, fui em uma amiga astróloga que me disse que tenho vocação para me meter em confusão. Foi pesado, o programa saiu do ar e todo mundo perguntava se eu tinha brigado. Era chato. Aprendi a ficar quieta, na minha torre - conta a atriz, que na mesma época do fim do programa viu suas finanças sofrerem um golpe quando uma tia, que tinha acesso ao seu dinheiro, roubou a sobrinha.
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Ser uma substituta e apenas mais uma integrante em um grupo bem-sucedido como o Casseta & Planeta, depois de ser a dona de um programa, poderia ser uma tragédia. Mas ela diz que vem trabalhando internamente para que não seja.

- Se não tivesse a experiência de vida que eu tenho, ia sofrer muito por não ser mais a protagonista. Não vou dizer que não chorei, claro que fiquei mal, pensando que a culpa pelo programa ter acabado era minha. Mas tenho minha consciência limpa. Somos um grãozinho de areia para a TV Globo. Não tem essa coisa de "meu programa", não adianta. Se eu reclamasse, correria o risco de ouvir um "cala a boca, garota!". Não dá para quebrar a Globo porque quero "A diarista" de volta, não sou melhor do que ninguém. Os próprios cassetas não têm esse ego, a gente não os vê na "Caras". Estou feliz de estar lá, aprendo muito com eles, principalmente com o desprendimento.
Fonte: Revista da TV

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