segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Chinaaaaaaaaaaaaaaa

As olimpíadas já começaram. A gente sabe. E uma galera é contra o evento rolar na China. Eu não ligo. Não gosto de esportes; tô nem aí. Mas li esse texto dessa jornalista velha conhecida e achei muito legal.

SÔNIA BRIDI - China: modo de usar
Leve a curiosidade, deixe em casa o preconceito. Essa é a resposta que tenho dado a quem me pede dicas sobre como se preparar para uma viagem à China. A China é um continente, tem oito vezes a população brasileira num território maior do que o nosso. Tem vários idiomas e etnias, variados costumes e religiões. Não é um lugar para a gente generalizar ou resumir. A China é mega, e é multi.

Por isso, abra os olhos para a China. Deixar o preconceito em casa significa estar apto a perceber que o fantástico crescimento econômico tem, sim, condições de trabalho ultrajantes — como há também no Brasil. E isso é condenável — lá e aqui. Mas há um planejamento, um projeto de país que permitiu tirar 800 milhões de chineses da miséria em 25 anos, e levar outros 400 milhões à classe média.

Se nós simplificamos a China, creditando esse crescimento somente ao trabalho escravo, onde encaixamos essa classe média que representa mais do que o dobro da população brasileira? E a infra-estrutura de estradas, aeroportos, portos, canais, parques industriais, todos modernos, grandes, bem construídos? Se tirarmos os méritos da China em promover seu crescimento e a maior história de ascensão social já vista pela Humanidade, estaremos tirando de nós mesmos também a oportunidade de aprender a encontrar esse caminho para fora da miséria.

Há muitas coisas a aprender. Primeiro, tente fechar os ouvidos para as escarradas e cuspidas. Para elas há até uma explicação na medicina chinesa, mas são nojentas de ouvir ou de ver. Observe como as ruas de Pequim são bem pavimentadas, como cada avenida é arborizada, tem canteiros de flores coloridas com bancos para os moradores se sentarem e apreciarem o movimento. Note como em cada esquina há estranhos equipamentos de exercício, que a prefeitura instala para incentivar a boa forma física como promotora de saúde.

Ao perceber que bicicletas e carros ocupam espaço igual nas ruas, não despreze o atraso chinês que usa a tração humana em vez dos motores. Pense no esforço que cidades como Paris e Londres estão fazendo para copiar esse modelo, que promove a saúde e combate a poluição. No restaurante, não se fixe nas comidas exóticas. Tente contar a variedade de pratos e ingredientes no cardápio.

Bin quarrr (isso mesmo, puxe esse “r” bem forte, como fazem os paulistas do interior) é gelo. Peça gelo para a sua Coca-Cola. Eles nunca servem nada gelado. Mas não se acanhe de experimentar beber um copo de água quente, se ela for servida num dia seco. A água quente cai estranha em nosso paladar, quase agride nossos sensos, mas hidrata imediatamente, promove a saúde. Tente acompanhar as refeições com chá de crisântemo ou chá verde ou chá de jasmim. É saudável e é delicioso.

Alimentado, volte à rua e não estranhe as mocinhas usando capas leves sobre os ombros, meias de náilon com sandálias, luvas brancas até os cotovelos, sombrinhas, chapéus. Elas se protegem do sol. Observe as velhinhas. A pele lisa, sem manchas, é resultado dessa proteção diária. A China tem baixo índice de câncer de pele, apesar do ainda baixo uso de filtro solar.

Entre numa livraria. Espie os livros, veja a variedade de títulos, de temas. E a massa humana que se acotovela tentando comprar. Chineses respeitam os livros, o conhecimento, a educação. Desde os tempos de Confúcio a sociedade decidiu que a ascensão social acontece pelo mérito e o mérito é medido pela educação. Mais de dois mil anos escolhendo autoridades por concurso público. Muita coisa mudou, muita coisa na China merece nossa crítica, nosso repúdio. O governo autoritário, a censura, a repressão, o extermínio cultural de algumas minorias.

Mas muitos dos valores chineses podem nos ensinar o valor do sacrifício de uma geração em favor da geração seguinte. Quem tem pais que se sacrificaram para proporcionar estudo aos filhos sabe do que falo. Essa é a China de hoje. Disposta a trabalhar como escrava para que a próxima geração alcance uma vida melhor.

* Sônia Bridi foi correspondente da TV Globo em Pequim e, hoje em Paris, acaba de lançar o livro “Laowai — Histórias de uma repórter brasileira na China”

2 comentários:

AtomiCokctail disse...

pela excelente breve matéria, dá vontade de ler o livro !

R disse...

concordo.