quarta-feira, 12 de outubro de 2011

INSUPÓRTABOU!

Deve ser da idade avançada.... ando implicadíssima com certas expressões repetidas lobotomizadamente aqui pelas bandas e bundas populares brasileiras. Será que não existe outra palavrinha para se dirigir a mais de uma pessoa que não seja “galera”? “E ai, galera!? Tudo bem, galera!? Boa noite, galera! Valeu, galera!” É a síndrome de Bem-Hur... Insupórtabou!

Outra que eu desejo ter um controle remoto ao vivo é quando a cada final de frase a pessoa diz “tá!” “Eu atravessei a rua, tá, e daí dei de cara com a Glorinha, tá, fazia um tempão que a gente não se via, tá”. E ainda temos as variações sobre o mesmo tema com “tá ligado” e “tá entendendo”. O assunto parece tão difícil que o(a) locutor(a) precisa checar o tempo todo se o imbecil ouvinte está conseguindo acompanhar sua brilhante história...Ãmbérabou!

E para qualquer pergunta que se faça a primeira coisa que se responde é “com certeza!” “Você acha bonito aquele sapato? Com certeza! Você gosta de sushi? Com certeza! Você está triste? Com certeza! Você não disse que seu time ganharia hoje? Com certeza!” Ninguém sequer se lembra de usar um “certamente” ou mesmo um simples “talvez” ou “pode ser” ou “não sei” ou “vou pensar”. Não existe mais o benefício da dúvida, é sempre com certeza! E as pessoas pronunciam isso como que possuidoras de um poder absoluto... Ambãlívabou!

E o “tipo assim”? “Eu fui numa festa tipo assim festa, cheguei no DJ tipo assim DJ e pedi logo um trance tipo assim trance, cê acredita que o cara só tinha house tipo assim house?” Nauseabúndabou!

Na despedida vem o engraçadinho “fui!” “Puxa, já estou bastante atrasado, fui! Minha mulher acabou de telefonar, fui! Preciso ir ao banco, fui!” debilóidabou!

Quando alguém se perde numa conversa ou nada mais há pra acrescentar, vem o tal do “enfim...” “Então foi isso que aconteceu, enfim... Eu dizia o que mesmo? Enfim.... Juro que não sei mais o que faço, enfim...” Detéstabou!

E se você começar a conversar comigo usando “veja bem” ou “olha só” ou “vem cá”, pode esperar retaliações... Disgãstinbou!

A gente nem estaria reclamando se isso acontecesse vez ou outra, mas não, é o tempo todo com todo mundo em todos os lugares!

Por isso, quando uma pessoa de mais idade se expressa, algo de gauche e revolucionário vem à tona com preciosidades linguísticas, tais como: bidú! putz grila! legal as pampa! podiscrê! sacional é isso aí, bicho! o maior barato! tô índio nessa! de araque! de leve! rapeize! turminha! putada!

Antigamente tudo era bem mais chíquebou!

Lita Ree

Não sei quem sou eu, mas posso inventar alguma coisa... com a idade avançada, nosso ego vai se diluindo e esquecemos até do nome de batismo... “alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma” seria a resposta mais correta...

(Rita Lee – Revista MTV nº2 – abril 2001)

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