terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Livro conta a história dos figurinos na teledramaturgia da Globo



Gilberto Braga tem uma frase divertida sobre "Dancin' Days", uma de suas principais novelas, que define com perfeição o poder da TV para lançar modas que varrerão as ruas: "Eu achava que estava escrevendo um drama entre duas irmãs; na verdade, era a história de uma moça que usava uma meinha de lurex", confessou o autor à figurinista Marília Carneiro, responsável pelo visual da tal moça: Julia Mattos (Sonia Braga), uma ex-presidiária que, no meio da trama, tomava um banho de loja e adentrava uma discoteca usando sandálias de salto alto com meias soquete coloridas. Quem tinha idade para ver TV em 1978, sabe o que veio depois: toda uma geração de mulheres e meninas dançando país afora com suas meinhas brilhantes.

O acessório é um ícone da chamada moda de novela, mas há muitos outros exemplos da influência da televisão sobre a maneira de vestir dos brasileiros. Eles são uma das partes mais saborosas do belo "Entre tramas, rendas e fuxicos", livro recém-lançado pela Editora Globo. São 400 páginas e 200 imagens que contam a história da teledramaturgia na TV Globo através do trabalho de seus figurinistas (leia matéria completa na Revista da TV deste domingo). A obra, feita por oito pesquisadores, tem várias curiosidades a respeito do guarda-roupa e da caracterização de personagens que fizeram história na TV. Algumas delas:

- Na minissérie "Memórias de um gigolô" (1986), a figurinista Beth Filipecki se inspirou em Louise Brooks para fazer a caracterização de Bruna Lombardi, uma prostituta dos anos 20. O diretor, Walter Avancini, aprovou a idéia, mas continuou implicando com o visual da atriz. Achava que as roupas estavam pesadas. Beth disse que eram os forros, obrigatórios na época, e Avancini mandou ela tirar tudo. "Na hora, pensei: vão me matar! Eu, professora universitária, tirando forro de roupa de época! Mas ele (Avancini) estava certíssimo. Aprendi ali que figurino deve existir em função da cena, não de um documento histórico'', relata ela no livro "Entre tramas, rendas e fuxicos''.

- O famosos visual da viúva Porcina (Regina Duarte) em "Roque Santeiro" (1985), de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, foi feito em apenas dois dias. Segundo o figurinista Marco Aurélio, as roupas da exagerada viúva foram trabalhadas na base do instinto, com detalhes sendo acrescentados aos poucos. Um dia, o cabelo da atriz não estava muito bonito e Marco Aurélio decidiu acrescentar um laçarote. Todo mundo gostou e o acessório foi incorporado.



- A figurinista Beth Filipecki se inspirou em Sissi, imperatriz da Áustria, para criar os vestidos de Malu Mader em "Força de um desejo" (1999). A figurinista contou com a colaboração da pesquisadora Clarisse Fukelman para retratar a época (século XIX) e usou os romances de José de Alencar para se inspirar. Nos antiquários da Inglaterra e de Paris, Beth adquiriu elementos para reproduzir com fidelidade o espírito do período.


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