Feliz Ano Novo!!!
VIDAS E CORPOS DERRETIDOS PELO TEMPO
Tatiana Blass apresenta a partir de hoje no CCBB a instalação ‘Fim de partida’, baseada na peça homônima de Samuel Beckett
Tudo em “Fim de partida” está se acabando. Na peça de Samuel Beckett, os sonhos não existem mais, a perspectiva de um futuro já se esvaiu, e os personagens, às voltas com a tarefa de acabar de existir, insistem em jogos sem sentido apenas pelo medo do vazio, do nada. Tudo é resto de vida que escorre. E é com base no texto do dramaturgo e escritor irlandês que a artista plástica Tatiana Blass criou a instalação também intitulada “Fim de partida”, que ela expõe na sala A Contemporânea, do CCBB, a partir de hoje. Nela, Hamm, cego e paralítico; Clov, manco; e o casal Nagg e Nell, mutilados que vivem em latas de lixo, são feitos de cera e, com a ajuda de refletores potentes, têm seus corpos derretidos, assim como suas vidas.
— São pessoas que estão em restos, no fim da vida, sem esperanças. E os corpos derretidos pela cera falam disso também — diz Tatiana.
A ideia de trabalhar em cima da peça de Beckett veio, na realidade, através de seu material-xodó do momento: a cera. Foi com ela que criou a instalação “Metade de fala no chão — Piano surdo”, apresentada na última Bienal de São Paulo, em que um piano de cauda era coberto por cera branca, que se derretia enquanto um pianista tocava acordes de Schumann.
— Acho interessante a ideia de criar uma instalação, que é, a princípio, estática, com movimento. A cera derretida permite esta ação contínua, que tem um tempo particular. E eu queria criar uma encenação com as minhas esculturas de cera, onde de fato acontece uma ação — explica.
Para conceber “Fim de partida”, a artista leu mais de dez vezes a peça de Beckett. O teatro parece algo familiar e prazeroso a Tatiana. Basta lembrar suas séries de pinturas “Teatro para cachorros”, “Teatro para animais” e “Teatro para aviões/ Teatro da despedida”, realizadas em 2009 e 2010. Entretanto, a artista nunca fez uma aula de atuação na vida e não se sente à vontade no palco. O interesse pela encenação vem, na realidade, de um desconforto.
— Tenho uma grande dificuldade com o teatro. É sabido, ali, que tudo é falso e exagerado, a impostação de voz irreal, os gestos amplos. Mas, quando a peça é bem executada, é muito forte. O que acontece comigo é um pouco o que acontece com o mágico. Todos sempre prestam muita atenção em como são feitos os truques e não se deixam iludir. Eu tenho essa dificuldade, e é preciso se deixar levar — elucida a artista.
A exposição conta ainda com duas telas inéditas de Tatiana, intituladas “Afogados”. Nas pinturas, grandes massas de tinta parecem engolir o espaço em que, olhando com a devida atenção, é possível perceber pessoas, pequenas imagens humanas afogadas pela imensidão da tinta.
— São quadros em que a gente se pergunta se são sobreviventes, se estão mortos, onde estão. É uma outra forma de vida — reflete.
A exposição fica em cartaz até o dia 6 de março. Nesse período, nenhum visitante verá a obra do mesmo jeito que outro. Para garantir que os personagens de Beckett estejam lá até o último dia, Tatiana conta que existe um mecanismo que, quando acionado, regula a intensidade dos refletores, desacelerando o derretimento.
— Mas é uma obra que não sei como vai terminar. Não tem como prever — diz.
Tatiana Blass apresenta a partir de hoje no CCBB a instalação ‘Fim de partida’, baseada na peça homônima de Samuel Beckett
Tudo em “Fim de partida” está se acabando. Na peça de Samuel Beckett, os sonhos não existem mais, a perspectiva de um futuro já se esvaiu, e os personagens, às voltas com a tarefa de acabar de existir, insistem em jogos sem sentido apenas pelo medo do vazio, do nada. Tudo é resto de vida que escorre. E é com base no texto do dramaturgo e escritor irlandês que a artista plástica Tatiana Blass criou a instalação também intitulada “Fim de partida”, que ela expõe na sala A Contemporânea, do CCBB, a partir de hoje. Nela, Hamm, cego e paralítico; Clov, manco; e o casal Nagg e Nell, mutilados que vivem em latas de lixo, são feitos de cera e, com a ajuda de refletores potentes, têm seus corpos derretidos, assim como suas vidas.
— São pessoas que estão em restos, no fim da vida, sem esperanças. E os corpos derretidos pela cera falam disso também — diz Tatiana.
A ideia de trabalhar em cima da peça de Beckett veio, na realidade, através de seu material-xodó do momento: a cera. Foi com ela que criou a instalação “Metade de fala no chão — Piano surdo”, apresentada na última Bienal de São Paulo, em que um piano de cauda era coberto por cera branca, que se derretia enquanto um pianista tocava acordes de Schumann.
— Acho interessante a ideia de criar uma instalação, que é, a princípio, estática, com movimento. A cera derretida permite esta ação contínua, que tem um tempo particular. E eu queria criar uma encenação com as minhas esculturas de cera, onde de fato acontece uma ação — explica.
Para conceber “Fim de partida”, a artista leu mais de dez vezes a peça de Beckett. O teatro parece algo familiar e prazeroso a Tatiana. Basta lembrar suas séries de pinturas “Teatro para cachorros”, “Teatro para animais” e “Teatro para aviões/ Teatro da despedida”, realizadas em 2009 e 2010. Entretanto, a artista nunca fez uma aula de atuação na vida e não se sente à vontade no palco. O interesse pela encenação vem, na realidade, de um desconforto.
— Tenho uma grande dificuldade com o teatro. É sabido, ali, que tudo é falso e exagerado, a impostação de voz irreal, os gestos amplos. Mas, quando a peça é bem executada, é muito forte. O que acontece comigo é um pouco o que acontece com o mágico. Todos sempre prestam muita atenção em como são feitos os truques e não se deixam iludir. Eu tenho essa dificuldade, e é preciso se deixar levar — elucida a artista.
A exposição conta ainda com duas telas inéditas de Tatiana, intituladas “Afogados”. Nas pinturas, grandes massas de tinta parecem engolir o espaço em que, olhando com a devida atenção, é possível perceber pessoas, pequenas imagens humanas afogadas pela imensidão da tinta.
— São quadros em que a gente se pergunta se são sobreviventes, se estão mortos, onde estão. É uma outra forma de vida — reflete.
A exposição fica em cartaz até o dia 6 de março. Nesse período, nenhum visitante verá a obra do mesmo jeito que outro. Para garantir que os personagens de Beckett estejam lá até o último dia, Tatiana conta que existe um mecanismo que, quando acionado, regula a intensidade dos refletores, desacelerando o derretimento.
— Mas é uma obra que não sei como vai terminar. Não tem como prever — diz.
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